COMO A COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA POTENCIALIZA O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
- Dra Ana Carina Tamanaha

- 1 de out.
- 3 min de leitura

A comunicação alternativa e aumentativa (CAA) é um conjunto de ferramentas que auxilia pessoas com necessidades complexas de comunicação a se expressarem quando a fala não se sustenta como uma forma de comunicação efetiva. Ela possibilita a expressão de pensamentos, necessidades, sentimentos, e promove a inclusão social.
A CAA abrange uma variedade de ferramentas que podem ser agrupadas em:
· Baixa tecnologia: pranchas de comunicação, livros com figuras e gestos.
· Alta tecnologia: aplicativos em tablets ou computadores, vocalizadores que reproduzem palavras ou símbolos em voz alta.
A seleção e a implementação devem ser feitas com base na avaliação fonoaudiológica minuciosa de cada criança, adolescente ou adulto para que o sistema escolhido atenda às necessidades de cada usuário, considerando seus perfis sociocomunicativo, sensorial, cognitivo, motor, socioeconômico e cultural. Além disso, o engajamento dos familiares também merece atenção, pois o envolvimento dos familiares ou cuidadores é fundamental para garantia de implementação bem-sucedida.
CAA no Transtorno do Espectro do Autismo
Um dos sistemas de baixa tecnologia criado especialmente para pessoas com TEA é o Picture Exchange Communication System – PECS. Ele baseia-se na análise do comportamento aplicada e é constituído por um repertório de vocabulário representado por imagens selecionado para cada usuário e implementado em seis fases: fase I (Troca física: como comunicar) o usuário aprende a usar os cartões para indicar o que deseja. Na fase II (Distância e persistência): persiste-se no uso dos cartões em diferentes contextos. Na fase III (Discriminação de figuras) a ênfase é na discriminação visual e seleção adequada de diversos cartões. Na fase IV (Estrutura da sentença) aprende-se a construção de frases utilizando-se cartões relativos a verbos de ação (ex: querer) e atributos dos objetos (ex: cor). Na fase V (Responder ao que você quer?) o usuário é incentivado a responder à pergunta “O que você quer?”, e na fase VI (Comentar) aprende-se a criar comentários tais como “eu estou assistindo...” (Bondy, Frost, 2002).
Outros sistemas, como o Cough Drop, TD Snap e o Pragmatic Organization Dynamic Display (PODD), considerados de padrão mais robusto, isto é, aqueles que oferecem acesso a mais de 100 palavras em diferentes categorias gramaticais, flexíveis, passiveis de expansão e versáteis para diferentes funções também têm sido recentemente adotados para ampliação da troca comunicativa por pessoas com TEA (White et al, 2021).
Como a CAA pode favorecer o desenvolvimento de linguagem
A CAA contribui para a melhora da compreensão verbal à medida que agrega pistas visuais e contextuais à informação verbal. Em estudo conduzido com o objetivo de se avaliar o impacto do uso do PECS na compreensão de instruções visuais (8) e orais (8) em um grupo de 20 crianças com TEA, na faixa etária de 6 a 12 anos, verificou-se melhora significativa da compreensão de instruções tanto visuais quanto orais, após as crianças atingirem a fase IV do PECS. Esses resultados mostraram que o sistema não apenas forneceu uma ferramenta para as crianças se expressarem, mas também promoveu um avanço significativo na compreensão das informações contextuais (Santos et al, 2021).
Outro estudo também apontou para a importância da seleção criteriosa dos vocábulos que serão implementados, pois estes devem representar o contexto e as necessidades de cada pessoa (Ferreira et al, 2019). É notório que a CAA proporciona um aumento expressivo do repertório lexical de seus usuários, tanto de vocabulário receptivo quanto expressivo (Tamanaha et al, 2023).
Importante salientar que a CAA também deve ser considerada para pessoas com TEA com algum nível de verbalização, ou seja, não apenas para os não falantes. Para todos esses perfis comunicativos, a CAA pode contribuir organizando a estrutura morfossintática da mensagem a partir do uso mais amplo do repertório lexical e morfossintático adquirido (Almubark et al, 2025).
Por fim, a CAA pode potencializar a área da pragmática da linguagem, ao possibilitar que o usuário demonstre a sua intencionalidade comunicativa e se comuniquem por meio de recursos multimodais em diversas funções comunicativas: pedindo objetos, ações ou informações; protestando; compartilhando sentimentos e intenções; comentando; nomeando; narrando ou cumprimentando.
Mais do que apenas substituir a fala, a CAA permite que as pessoas possam se comunicar com intenção e propósito, de forma a se sentirem incluídas e pertencentes à sua comunidade.
Para saber mais:
Almubark N et al. AAC narrative intervention for children with Autism. AAC. 2025, 26:1-14.
Bondy A, Frost L. Manual de Treinamento do PECS. Newark, Pyramid Ed, 2002.
Ferreira C et al. Seleção de vocábulos para implementação do PECS em autistas não verbais. CoDAS. 2017,29 (1): e201510285.
Santos PA et al. O impacto da implementação do PECS na compreensão de instruções de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo. CoDAS. 2021, 33 (2): e2020041
Tamanaha AC et al. Programa de Implementação do PECS para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo. CoDAS. 2023, 35 (4):e20210305.
White D et al. AAC and speech productions for individuals with ASD: a systematic review. JADD. 2021. 51 (11):4199-4212.




Comentários