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Construção conjunta da narrativa oral infantil: os diferentes papéis do adulto

  • Foto do escritor: Dra Jacy Perissinoto
    Dra Jacy Perissinoto
  • 1 de set.
  • 2 min de leitura

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Ao longo do desenvolvimento da linguagem da criança é possível observar a evolução da narrativa oral. O observar figuras, contar fatos, recontar histórias conhecidas e até criar histórias adquirem maior complexidade não apenas no domínio das regras da Língua, mas também no conteúdo. Diferentes níveis de correlações entre os fatos, nas relações de tempo envolvidas entre as ações, sua causalidade e a intenção dos personagens surgirão ao longo da evolução da linguagem da criança.

Dessa forma, a narrativa externaliza conteúdos aprendidos, compartilha experiências vividas ou imaginadas. Tem grande importância, enquanto sinal do processo de evolução na linguagem em suas funções de integração social e cultural.

A criança não constrói esta evolução sozinha. No dia a dia há um interlocutor que escuta, vê os gestos e expressões faciais, e participa ativamente da montagem do que está sendo narrado.

Esta participação é o que pesquisadores consideram como tutela, isto é, as intervenções realizadas pelo adulto que permitem à criança resolver uma tarefa, que sozinha ela não seria capaz.

O adulto que tutela apoia a atividade de comunicação da criança, ajuda a falar sem impedir que a criança fale, com intuito de conduzi-la a organizar e elaborar o seu próprio discurso. Nessa relação, o papel do adulto é delicado uma vez que o sucesso da tutela depende da avaliação que ele faz das capacidades da criança, ainda que sem saber de antemão o que a criança tem como foco e que ela narra conforme sua própria perspectiva.

  São exemplos: olhar para onde a criança olha e acompanhar o que ela mostra; fazer breves comentários sem interromper o que a criança está narrando; fazer perguntas abertas para a criança seguir (ex.: E daí? O que aconteceu?) e mesmo perguntas fechadas de confirmação, prevendo resposta sim ou não (ex.:O menino caiu?) auxiliam o partilhar de atenção entre os dois interlocutores.

Durante essa dinâmica de diálogo, há expectativas e surpresas para ambos os envolvidos e, mesmo em situação de reconto ou reconstituição pela criança de uma história conhecida pelo adulto, este último precisa levar a criança a falar sua própria narrativa infantil, e não, conduzi-la à reprodução da versão adulta.

Por exemplo, enquanto a criança responde ou solicita a atenção e mostra seu foco de interesse, o adulto retoma, responde, reformula, repete, suprime e acrescenta elementos, recapitula o que a criança fala e contribui para a elaboração  daquela narrativa.

Esse processo segundo o qual a criança, desde muito jovem, adquire a linguagem e representa o mundo em suas narrativas, ocorre em atividades de compartilhamento de atenção e de interesse pela comunicação com os interlocutores adultos que a acolhem.

 

Para saber mais:

PERISSINOTO, J. Efeitos da conduta do diálogo, posições do adulto e modalidades da tutela. In: MELO, L.E. (org). Compreensão e Produção na Criança. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Unicsul, 2005. p.115-176.

VERZOLLA, B. L. P.; ISOTANI, S. M. & PERISSINOTO, Análise da narrativa oral de pré-escolares antes e após estimulação de linguagem. Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. Jornal., p.62 - 68, 2012.

   PERISSINOTO, J.; AVILA, C R B de; KIDA, A. S. B.; ARMONIA, A. C.; CHANG, E. M. Efeitos da tutela em construção de narrativa oral infantil In: MELO, L.E. (org). Competência Pragmática e Linguística na Leitura de Imagens: reflexões interdisciplinares.1ª ed.: Editora CRV, 2016, p. 41-80

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